sexta-feira, 10 de maio de 2013

Rolando na internet( Palhaçada)

Encenação. O pastor Marcos Pereira em uma sessão de exorcismo com detentos de presídio em Minas Gerais Foto: Guilherme Pinto / Extra/O Globo

Marcos Pereira: o circo místico de um pastor que tinha ovelhas no tráfico

  • Investigação põe fim ao teatro que abria para ele as portas de presídios e favelas
  • Na igreja lotada, ele balança seu paletó. À sua frente, uma fileira de fiéis, tão perfeita que parece previamente organizada. Um milagre vai acontecer, ele quase sugere, modulando um jogo de cena de pausas e exortações. “Quando eu passar, todo mundo vai cair!”, grita.


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Encenação. O pastor Marcos Pereira em uma sessão de exorcismo com detentos de presídio em Minas Gerais Guilherme Pinto / Extra/O Globo
RIO — Ele voa até o fundo do salão com a peça de roupa, que diz ser abençoada, sobre as dezenas de cabeças à sua frente. Como um dominó, todos caem. As imagens de uma teatralidade pouco crível ganharam a internet. Marcos virou o “Pastor Sonic”. A comparação com o herói de videogame dos anos 90 está mais para zombaria do que para fé em seus superpoderes. Mesmo evangélicos acreditavam que os excessos do pastor Marcos eram o prenúncio do apocalipse de um líder espiritual cada vez mais vaidoso e isolado.
Antes de angariar o respeito de políticos a chefões do tráfico — muitos deles se ajoelharam a seus pés — e de transformar os cultos da Assembleia de Deus dos Últimos Dias num circo místico, ao abater um endemoniado a “tiros”, um gesto que simula prosaicamente com os dedos, o pastor Marcos lutou contra os seus próprios demônios. Quando jovem, vivia em noitadas e prostíbulos. O passado nada cristão era usado como atestado da conversão radical. Nos anos 80, um amigo o levou a um culto do pastor Silas Malafaia, no Centro. A história foi contada pelo próprio pastor a Silas, há poucos anos — “cheguei a dizer a ele que aquele negócio de mulher com roupa comprida, mangão, não estava na Bíblia, era radicalismo dele”. Silas defende que o pastor Marcos pague pelos crimes, “se” os cometeu:
— Se ele estuprou mulheres, pau nele. Mas desconhecer o trabalho que ele fez com presidiários é molecagem. Esse cara, por muito tempo, colocou a mão onde ninguém queria colocar: no esgoto.
Apesar de ter o seu reduto em São João de Meriti, na Baixada, o pastor Marcos ficou conhecido em todo o país por ter negociado o fim de mais de 30 rebeliões. Em 2004, o então secretário de Segurança, Anthony Garotinho, o chamou para agir num motim em Benfica. Trinta pessoas foram executadas. Apesar das mortes, ele saiu com a reputação de ter evitado um banho de sangue ainda maior. A única voz dissonante era a da então deputada Denise Frossard que, num duro relatório, afirmou que, antes de ele chegar, a polícia já tinha conseguido a rendição dos amotinados. No mesmo ano, vazou um vídeo em que o traficante Derico de Acari era visto ao lado do pastor em um culto. Outros dois traficantes foram encontrados na fazenda da igreja, em Tinguá. O pastor foi proibido de entrar em presídios. Até então, ele frequentava quase todas as cadeias do estado, onde chegava em carros de luxo, sempre de terno e relógio Rolex, para sessões de exorcismo de presos. A amizade com José Júnior, que o havia aproximado de um público formador de opinião, acabou no ano passado, quando o líder do AfroReggae o acusou de ser a maior mente criminosa do Rio e estar por trás de ataques do tráfico em 2006 e 2010.
Família de oito irmãos, casado há 31 anos com Ana Madureira — que também o teria denunciado por estupro e voltado atrás — e pai de dois filhos, o pastor Marcos, que já frequentou centros de umbanda, tornou-se um missionário tão convincente que fez o francês Henri Bueno lhe doar um imóvel na Av. Atlântica, onde aconteceriam orgias. Henri, que tem uma fábrica em Bonsucesso, conta que fez a doação porque foi curado de uma asma. Ao ser perguntado se também foi submetido a exorcismos tão intensos que atiram fiéis ao chão, Henri, que deve depor novamente, apenas respondeu:
— Não caio fácil. Sou francês.







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