segunda-feira, 5 de maio de 2014

A humildade e a mansidão - Sacerdote






A humildade e a mansidão - Sacerdote


(Jesus Cristo falando ao coração do Sacerdote, ou meditações eclesiásticas para todos os dias do mês, escritas em italiano pelo Missionário e doutor Bartholomeu do Monte traduzidas pelo Pe. Francisco José Duarte de Macedo, ano de 1910)

            I. — Filho, aprende de Mim, o quê? não a fabricar o mundo, não a fazer milagres, mas a ser humilde e manso do coração [1].



            Reflete na Minha vida, e compara-a um pouco contigo mesmo. Sou alguma coisa mais do que tu; todavia quis nascer de uma Virgem pobre, em um presépio, reputado como Filho de um artista; vesti como pobre, tratei-me em tudo como pobre, e como tal fui considerado no mundo; e tu, sendo tão vil e miserável desde o nascimento quererás ostentar grandeza, no trato, no vestido, em tudo?

            Não poderia Eu, apenas nascido, encher o mundo com a fama de Minhas obras maravilhosas? Mas olha como vivi por trinta anos, em um pobre casebre, numa humilde oficina. Questionei com os doutores da Lei, e fui crescendo em ciência e graça ao passo que cresciam os anos; mas sempre em ocupações de uma vida pobre e comum, sem querer ser conhecido nem estimado; e tu, ignorante, mas soberbo, recusas o ensino, os conselhos, inculcas ser o que não és, e assim pretendes Ordens sagradas e empregos sem disposição nem méritos; e, fugindo das obras humildes, buscas sempre as mais ostentosas.

            Que concluis tu deste paralelo? Eu vivi sujeito às leis, obediente a Minha Mãe, e ainda a José; recebi o Batismo de João; e tu, altivo, mostras tão pouco respeito às leis da Igreja, do Bispo, de teus superiores?

            Desengana-te, filho, que Eu não atendo nem comunico Minhas graças senão aos humildes. Se te não fizeres pequenino, como um menino, não entrarás no reino do Céu: este é o fundamento de toda a vida cristã, e muito mais da vida eclesiástica; e pretenderás tu construir um edifício sem alicerce? [2]

            II. — Eu, depois que comecei a vida publica, busquei acaso em todos os Meus trabalhos, pregações e milagres outra glória que não fosse a de Meu eterno Pai? E tu, que nada és, nada podes, nada vales, não buscarás senão a tua glória vã, louca, nociva, e até á custa da Minha? Eu a ninguém falei com altivez; falei dos príncipes, ainda que pagãos, com todo o respeito; enviei as turbas aos Sacerdotes, ainda que Meus perseguidores; com ninguém porfiei, e ensinei ao maior que se fizesse menor, e se submetesse a todos, ainda que defensores e usurpadores injustos dos bens terrenos. E tu colheste acaso destes exemplos a arrogância, a murmuração e critica dos defeitos alheios, a altercação, o envenenamento das ações e ditos do próximo, até de Sacerdotes e Regulares, sempre com escândalo dos leigos? colheste a ira, as injúrias, o ressentimento implacável contra os que te ofendem?

            Eu fugi de reinar e de toda a humana grandeza; limitei-Me a pregar somente na Judeia, a pobrezinhos, a poucos ouvintes, e até a uma só vil samaritana; chamei, para Me coadjuvar, discípulos pobres, como se deles necessitasse; dei-lhes poder de fazerem milagres, ainda maiores que os Meus, e de levarem por toda a terra o Meu Evangelho: abati-Me a ponto de lavar-lhes os pés, como se fôra seu servo; humilhei-Me, fiz-Me o mínimo entre todos: até nos Meus dons e milagres fiz porventura alguma ostentação de grandeza? na Eucaristia não Me escondo eu sob as espécies do sustento mais vulgar? E tu ainda ambicionarás títulos, buscarás os primeiros postos e preeminências, e até em teus ministérios introduzirás inveja e pontinhos de honra, com escândalo dos seculares? E presumirás agradar a Deus, e converter-Me as almas por meio da aspereza e soberba, quando eu só empreguei o da mansidão e humildade?

            III. — Em que mar de ignomínias e de aviltamento não estive submergido na Minha Paixão! Abandonado dos Meus, traído por Judas, negado por Pedro, perseguido dos Sacerdotes, tratado como louco, posposto a Barrabás; afrontado, oprimido, condenado injustíssimamente a um infame patíbulo; contudo não resisti, não desmenti as calúnias, não Me defendi, não requeri justiça. Se falei, não foi para Me livrar das injúrias, mas para declarar a verdade, ainda que previa que elas se Me aumentariam; e tu, sendo culpado, não sofrerás correção, não quererás sequer comparecer como réu perante um confessor desconhecido? queixar-te-ás de Mim se te mandar tribulações? exigirás, se te tocarem, a mais severa satisfação? e tu, para evitar uma humilhação, algum ditério, dissimularás, desfigurarás, encobrirás a verdade, devida a teu ministério?

            Pergunta a Meus inimigos como os tratei; que doces palavras dirigi a um Judas? pedi perdão para os que Me crucificaram; e, sendo provocado no Calvário a descer da Cruz, posto que podia com uma só palavra, com um gesto livrar-Me das irrisões, quis antes morrer entre celerados, cheio de opróbrios, e ser a abjeção de todos. E assim venci a fereza e orgulho humano; triunfei do mundo, da morte e do Inferno; consegui a redenção das almas, a glória de Meu eterno Pai e do Meu nome.

            Deste modo ensinei-te acaso a sustentar a tua honra com arrogância e fausto? e lisonjear-te-ás que assim deves obrar pela Minha glória?[3] Ah filho, as humilhações conduzem à humildade, e a humildade à glória.

            Fruto. — Refreia a altivez e a aspereza [4]. Dizia S. Francisco de Sales que se caçam mais moscas com uma só colher de mel, que com cem barris de vinagre; e sendo-lhe objetado que S. Paulo manda insistir «oportuna e importunamente», respondeu que toda a força deste lugar do Apóstolo estava naquelas duas palavras, que se seguem: «com toda a paciência e doutrina». A doutrina é a verdade, mas deve ensinar-se com paciência, sofrendo, como Jesus Cristo, se for rejeitada e feita alvo de contradições.

           Busca sempre a glória de Deus; se buscas a tua, és um ladrão.

           É Sacerdote, e por isso deves humi­lhar-te tanto mais, quanto a grandeza da tua dignidade e dos dons de Deus, a que não correspondes, te obrigam as mais rigorosas contas.

            Foi este o motivo por que S. Francisco e muitos outros recusaram o sacerdócio; houve até quem cortasse o dedo polegar, como S. Marcos, e uma orelha como o B. Pedro e S. Amônio, para não poderem ser admitidos ao sacerdócio; outros houve que pediram antes a morte, como S. Hilarião.


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