quinta-feira, 4 de julho de 2013

Exemplo de Vida


1 De Dezembro
Charles nasceu em 1858. Morreu assassinado na Argélia, em 1916, aos 58 anos. Tinha sido oficial do exército francês e comandou expedições militares na África. Aos 28 anos, converteu-se ao Evangelho de Jesus. Ingressou num mosteiro trapista das irmãs clarissas em Nazaré. Não satisfeito, retirou-se para uma vida simples e oculta, a exemplo de Jesus. Retornou, mais tarde, para a Argélia e ali, no seguimento radical do Mestre, tornou-se monge sem convento, em contato direto com as populações tuaregs, até ser assassinado.
Vivemos numa época em que a Igreja está a tornar-se uma minoria em muitos países tradicionalmente considerados cristãos. Ao mesmo tempo, está a espalhar-se pela Igreja a consciência e a necessidade dum testemunho evangélico por parte de muitas pessoas que, com humildade, sem arrogância e no escondimento, sabem viver e anunciar o Evangelho a sectores da sociedade que vivem em situações aparentemente extremas e paradoxais. O beato Charles de Foucauld foi certamente um cristão que soube interpretar e proclamar o Evangelho utilizando a eloquência do silêncio, a força da fraqueza e a sabedoria da loucura da cruz.
Charles de Foucauld nem sempre foi homem “perfeito”. Pelo contrário, a sua conduta foi por muitos anos oposta aos padrões cristãos tradicionais. Era filho do seu tempo, com muitas fraquezas. Mas um dia, o encontro com Deus causou nele uma revolução tão grande que foi impelido a iniciar uma caminhada decisiva para a santidade – original, definitiva, sem olhar para trás. Ele continua a interpelar-nos também a nós ainda hoje, convidando-nos a deixar a nossa rigidez, as fronteiras tranquilizadoras ou os pequenos confortos espirituais, para responder aos inúmeros desafios que ele enfrentou, mesmo que nem sempre tenha podido cantar vitória. O seu testemunho provoca-nos a que revejamos talvez até muitos aspectos da nossa vida e da nossa missão e a pôr em prática um empenho mais decidido na procura da santidade neste primeiro ano do biénio que irá testemunhar o nosso esforço por atingirmos esta meta.
Durante esta minha reflexão convosco deixarei que o Beato Charles de Foucauld fale por si, para que nos revele a sua vida, a sua relação com Jesus, a sua caminhada de discernimento e de consagração a Deus enquanto missionário dos Tuaregues do Sara. Para nós vai a tarefa de nos deixarmos contagiar pelo seu testemunho de vida e de santidade.

  1. Breve perfil histórico-biográfico do “Irmão Universal”
O Beato Charles de Foucauld (Irmão Carlos de Jesus) nasceu em Estrasburgo, França, a 15 de Setembro de 1858, de família nobre. A sua primeira infância ficou marcada pela religiosidade profunda de sua mãe. A senhora De Foucauld soubera indicar aos seus dois filhos, Charles e Marie, o caminho na misericórdia mais com os gestos do que com as palavras e de forma eficaz. A sua lembrança ficou imprimida nos seus corações de forma indelével. Faleceu a 13 de Março de 1864, aos 34 anos de idade; em 19 de Agosto do mesmo ano faleceu também o marido. Os filhos órfãos foram entregues ao avô paterno, um coronel reformado, que tinha na altura cerca de setenta anos. O Charles tinha apenas 6.
Mas o Charles perdeu a fé aos dezasseis anos e ficou num estado de indiferença religiosa durante mais de doze anos. Era conhecido por todos como amante do prazer e da vida fácil, conseguindo revelar, no entanto, uma vontade forte e constante nos momentos difíceis
Em 1878 foi para a tropa como sub-tenente e partiu para a África, naquela época em que a França estava a colonizar a Argélia. A seguir, despediu-se da vida militar para se dedicar à exploração de Marrocos (1883-1884), onde organizou uma expedição perigosa, percorrendo 3 mil quilómetros camuflado de rabino judaico. Foi assim que descobriu, tanto entre os muçulmanos como entre os judeus, a lei sagrada da hospitalidade. Para Charles, foi coisa desconcertante descobrir amigos entre pessoas estranhas. O resultado dessa viagem foi um importante estudo geográfico daquele país, o qual veio a merecer-lhe a atribuição da medalha de ouro da Sociedade Geográfica.
A exploração de Marrocos transformou-o. Deu-se com os muçulmanos «que vivem continuamente na presença de Deus» e ficou «fortemente perturbado» com isso, a pontos de confidenciar no papel a seguinte reflexão: «Ver estas almas que vivem na presença contínua de Deus fez-me intuir algo de maior e mais verdadeiro que as ocupações mundanas». A pergunta sobre Deus surgiu-lhe então como consequência imediata desta experiência: «Meu Deus, se existis, fazei com que vos conheça!».
Voltando à França, foi recebido com afecto e discrição pela família de sua irmã, que era profundamente cristã. Logo se lançou à procura de Deus, tendo encontrado um padre para o instruir. Foi então guiado pelo Abbé Henri Huvelin e encontrou Deus em Outubro de 1886. Tinha 28 anos. «Como passei a acreditar que havia um Deus, logo compreendi que nada mais podia fazer senão viver só para Ele»,
Fez depois uma peregrinação à Terra Santa, que lhe revelou a sua vocação: seguir e imitar Jesus na sua vida de Nazaré. Viveu sete anos nos Trapistas, primeiro em Nossa Senhora das Neves e depois em Akbès, na Síria. A seguir passou a viver perto das Clarissas de Nazaré, na oração, na solidão e em grande pobreza. Foi ordenado sacerdote aos 43 anos (1901) na Diocese de Viviers e obteve licença para ir para o deserto argelino do Sara, primeiro em Beni-Abbés , pobre no meio dos pobres, e depois em Tamanrasset com os Tuaregues de Hoggar.
O seu sonho foi sempre o de partilhar a sua vida com os outros. Escreveu várias Regras, com a ideia de que a “vida de Nazaré” poderia ser vivida por todos e em toda a parte.
Na noite de 1 de Dezembro de 1916, enquanto o seu ermitério estava a ser saqueado, um jovem matou-o com um tiro na cabeça. Contra a vontade do próprio Charles de Foucauld, que queria ser sepultado em Hoggar, os seus restos mortais (à excepção do seu coração, que ficou numa urna em Tamanrasset) foram, após alguns anos, trasladados para El-Golea, que fica a mais de mil quilómetros a norte e a 950 quilómetros de Argel. O lugar que agora acolhe o Tuaregue Universal é austero e fica próximo da primeira igreja construída pelos Padres Brancos no Sara. É lá que jazem os restos daquele que quis testemunhar a fraternidade universal para lá de qualquer filiação religiosa e nacional.

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